quinta-feira, 8 de março de 2012

Musica - linha Campeira Reponte da Canção

TINO E CUIDADO

Gênero: Chamarra
Cidade: São Borja e Porto Alegre
Letra: Rodrigo Bauer
Música: Matheus Alves


Quem anda tenteando a lida nessa vivência campeira,
precisa ser prevenido, ter muito tino e cuidado...
O corpo sempre leviano, buscando a volta certeira;
a ponta do pé no estribo e o laço desabotoado!

Sabe que vaca parida, por quase nada atropela;
encurta as rédeas parelhas, seja a galope ou tranqueando;
e, quando enfrena o cavalo, revisa bem a barbela;
não facilita o banhado, nem chega em touro brigando!

Gado novo não se aperta, depois ninguém mais ataca...
Não use mais a gamarra quando o bagual se recolha!
E, em caso duma planchada, pra não se espetar na faca,
saiba que o cabo não deve ser mais pesado que a folha!

Ficar no seio do laço é um gesto muito arriscado!
Xiru que sai de rodada se escapa só por um triz;
cavalo murcha as orelhas quando se pára irritado;
quem anda em égua assustada se cuida até de perdiz!

Se a cincha vai pras virilha, qualquer matungo sujeito
enterra o toso, se pega e sai espalhando os cacos...
Por isso se aperta a cincha por sobre o osso do peito
e em flete meio pesado se aperta bem no sovaco!

Quem corre sobre o cavalo, contando apenas com a sorte,
e esquece de olhar pro campo, assim alheio de tudo,
não tem noção do terreno e é candidato dos fortes
a ver o mundo acabar-se na toca de algum peludo!

Por isso eu tenho cuidado para evitar as ‘’surpresas’’;
quem campereia com raio, tormenta, trovão e chuva,
não sabe ver os perigos da força da natureza
e corre um risco bem grande de ter sua prenda viúva!




RETRATOS


Gênero: Toada
Cidade: Pelotas e Canguçu
Letra: Márcio Nunes Correa e Helvio Luis Casalinho
Música: Cícero Camargo


Tem sentimento dos matos e a alma presa ao formão
Quem retrata este chão num tronco de vida inteira...
...moldando tantos gateados, cenas de tempo e querência
- é o campo mostrando a essência , entalhado na madeira!

Tem goela gasta de poeira tocando a tropa de antes,
nas rondas que por distantes renascem numa toada,
o cantador que desenha seu mundo em voz de guitarra
é bem igual a cigarra...morre cantando na estrada.

Por tantas cenas de campo que cada artista dá vida
que são Retratos da lida, do sul e seu universo...
Mal sabe quem fogoneia, num rancho lá na campanha,
Que tem riqueza tamanha que até nem cabe em meu verso...

Tem a magia nos dedos e o coração num papel.
 um lápis que é um sovéu pra um armadão debochado...
...e se a  imagem vem viva num pealo de sobre-lombo
A folha treme num tombo se um outro for de bolcado!...

Tem a clareza no verso em tudo que ele retrata,
num talareio de pata, inté se escuta o tropel...
de um varzedo florescendo, exala doce um perfume
- é que um poeta traz lume ao mais escuro do céu!




   TRIBUTO AO DOMADOR

Gênero: Chamarra
Cidade: Santana do Livramento
Letra: Volmir Coelho e  Othelo Caiaffo
Mùsica: Volmir Coelho


Domador essência pura
Rude estampa campechana
Pra ti vai meu canto xucro
Nessa chamarra pampiana
Que jamais irão domar
Pois é de raça aragana

Eu que conheço cavalo
Pelo raça e procedência
Sei bem tua eficiência
Que muitos não dão valor
Mas se hoje existe o “Rio Grande”
Dêem graças ao domador!

Honório, Flores e Bento
Riscaram a pátria a cavalo
Por certo que nem domaram
Seus pingos de montaria
Se não fossem o domador
Destes heróis que seria

Te ofereço este meu canto
Que domei com cordas fortes
Em respeito ao teu ofício
Domador da própria sorte
O meu canto te agradece
Porque o “Sul” ta no teu porte.


QUANDO A SAUDADE ANDA A CAVALO

Gênero: Milonga
Cidade: São Lourenço do Sul
Letra e Música: Adão Quevedo


Pai...
Sai de dentro da moldura
Desta janela tão fria,
Tenho andado a tua procura...
Além das fotografias.

Pai...
Deixaste a tua presença,
Nestas paredes tão altas,
Pendurada, nas lembranças,
Que ainda choram tua falta

Pai...
Ainda encilho dois cavalos,
Um deles, tua montaria...
Me acompanha, lado à lado
Recorrendo a gadaria.

Pai...
A estância permanece
Com suas cercas e cancelas,
Mas meu coração padece
Tua ausência, dentro delas.

Pai...
Duas esporas de prata
Andam perdidas das botas...
Teu cinturão com guaiaca,
Sem cintura, atrás da porta.

Pai...
Teu chapéu de “aba-larga”
Já não desafia o tempo...
O teu laço doze braças,
Não voa mais, contra o vento



                                      
‘’ DE CANTAR PRA O CORAÇÃO’’

Gênero: Canelones (ROU)
Cidade: Santana do Livramento
Letra: Jorge Modesto
Música: Juliano Moreno

Tramei um verso coração,
Pra te cantar ‘’despacito’’.
Pois já ando com a alma roca
De tanto prender-te o grito...

Faço questão d’uma trança,
Com o atado diferente.
Pra que sigas romanceando,
E manso pulsando em frente.

Doce morena... Flor no cabelo,
Vestido ‘’largo’’ e alpargata.
Pra te dizer uns ‘’miminhos’’
Bombeando a lua de prata.

Em migalhas, ‘’pulsador’’,
Por hora, estas em pedaços.
E o culpado é o ‘’desamor’’
Que exagerou no guascaço.
Ando assim, pintando imagens,
Buscando o que te convêm...
Mas não sou ‘’enganador’’,
Apenas quero o teu bem.

A sombra de uma ramada,
De cenário pr’um abraço,
Desses, que a gente sente
Apurar-se o teu compasso...

Mostrador de pulperia,
Não poderia faltar.
Que um liso de canha branca
Ajuda o tempo a tranquear...

Uma guitarra charlando,
Vibrando, bem de pertinho.
Pra te mostrar que na vida
Ninguém termina sozinho.

Não te assusta coração,
Te digo, sem titubear.
Escuta a voz da razão
Que tudo volta ao lugar...
Da religião novo amor,
Não te declares ateu.
Pois se perdestes um olhar
Por certo não era o teu.

BRINQUEDOS
                      
Gênero:
Cidade: Santiago
Letra: Dilamar  Costenaro
Música: Sidenei Almeida

Quando parei de brincar de faz de conta,
Que me dei conta, já não era mais guri,
Não escuto os brinquedos me chamarem,
Mas em que mundo afinal eu me perdi?
Pra onde foi o meu trabuco de madeira?
O gado de osso se perdeu pelo capim,
As “bulitas” não trago mais na gibeira,
O trem de lata a ferrugem deu um fim.
Minha arapuca esqueci lá no capão,
No potreiro perdi meu laço de embira,
Meu cavalo puro sangue de taquara,
Foi embora levando as rédeas de tira.

Os brinquedos que eu brincava se extraviaram,
Pela vida que passou e eu nem vi,
Quando tento em vão achar, vejo que o tempo,
Levou embora os brinquedos e o guri.

Onde estão os meus brinquedos?Me pergunto.
Viraram pó, feito a bola de carpim?
Se esconderam afinal, por trás dos cerros?
Ou quem sabe num lugar dentro de mim!
Minha carreta puxada a bois de sabugo,
Pela estrada foi sumindo de mansinho,
O meu cusco companheiro das caçadas,
Morreu junto com o mundo do piazinho.
E assim na ilusão dos meus brinquedos,
Eu brincava de ser homem na infância,
E na pressa de crescer eu perdi tempo,
Me fiz homem pra brincar de ser criança.

ÚLTIMA TROPILHA

Gênero: Milonga
Cidade: Pelotas e Candiota
Letra: Adriano Silva Alves
Música: Cristian Camargo 

Serão os últimos filhos livres do campo?
Colherão o pranto, por sereno dos Charruas...
Guardarão luas, nos feitiços das tranças, pelas noites das crinas...
Trarão nas retinas, as lágrimas puras de aguada e flexilha...
Terão sóis e geadas, no simples do couro, na forma dos pêlos...
Ouvirão nos silêncios, o idioma dos ventos na intenção do seu canto...
Serão estes... Serão estes, os últimos filhos do campo?

Benze a saudade nas crinas
A ‘liberdade’ dos ventos;
‘Chora’ no céu das retinas,
O ‘sal’ em luz de outros tempos...

Que voltam pelos serenos
Na forma ‘humilde’ dos pastos;
Na terra negra, em ‘moldura’
Pra imagem simples dos cascos.

“Memória” de um canto índio,
Antes do olhar das fronteiras;
Das mãos o couro das ‘sogas’
Na pedra em ‘cruz’, boleadeira.

Serão os últimos filhos...
Livres aos ‘olhos’ do campo?
Guardarão bem mais que o pranto,
No sereno dos ‘Charruas’.

‘Feitiço’em trança, pras luas,
Lágrima, aguada e flexilha;
Serão a última tropilha?
Ou filhos livres do campo...

A liberdade dos ventos
“Chora” no céu das retinas;
O ‘sal’ em luz de outros tempos,
Benze a saudade nas crinas.

Obs.:O verso fala sobre uma “família” de cavalos, que vive em estado selvagem, na região dos Campos Neutrais, mais precisamente próximos ao Farol de Albardão, no município de Santa Vitória do Palmar.

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