Biblioteca Pública Municipal
Crônicas Afônicas de Danilo Kuhn
http://cronicasafonicas.blogspot.com.br/ Quando nos fazemos Vidro
Você me deixou sem visão, quebrou meu olhar. Estranha sensação. Logo eu que me julgava tão forte, agora estou aqui, em cacos. Me fiz tão frágil quanto uma vidraça. Nos deixamos quebrar quando nos fazemos vidro.
Agora, cada passo é calculado. É como caminhar às escuras num lugar desconhecido: passo a passo, pisando em cacos, os demais sentidos aguçados. Parece que fiquei mais forte... Estranho: se as aparências me enganaram, nada mais se parece.
Nenhum gesto eu aceno em vão. Não cometo exageros. Tudo medido. Eu sempre tenho os pés no chão, passo a passo, pisando em cacos. Quando se perde a visão, se presta mais atenção aos pensamentos, se diz e se faz melhor dito e melhor feito.
O brilho mentiroso das palavras já não me convence mais: suas roupas são outras; escuto as entrelinhas... Quando se perde a visão, se ouve cada trejeito, cada expressão, cada silêncio, cada respiração.
O cheiro do vento me traz notícias, é o meu jornal. Denuncia, a quilômetros, quem se aproxima e sua intenção. Quando se perde a visão, se percebe o idioma do olfato, se fareja o perigo, a oportunidade, a presa, o predador, a dança das árvores e do riacho.
Decoro cada rosto pelo sabor de suas atitudes. Pessoas doces, educadas, pessoas amargas, amarguradas. Quando se perde a visão, o paladar descobre temperos improváveis.
Tateio lembranças, acaricio amores, abraço ausências, golpeio remorsos. Sinto escorrer por entre os dedos o tempo que perdi e o que ainda me resta. Quando se perde a visão, novas texturas vêm fazer parte do contexto.
Cada perda dá algo. Cada derrota conquista algo. Cada vez que se cai é uma oportunidade para se levantar. Cada vez que nos deixamos quebrar é uma oportunidade para nos refazermos, nos reinventarmos. Quando se quebra o olhar, se amplia a visão de mundo. Se fica mais forte quando nos fazemos vidro.
(Danilo Kuhn)
Crônicas Afônicas de Danilo Kuhn
http://cronicasafonicas.blogspot.com.br/ Quando nos fazemos Vidro
Você me deixou sem visão, quebrou meu olhar. Estranha sensação. Logo eu que me julgava tão forte, agora estou aqui, em cacos. Me fiz tão frágil quanto uma vidraça. Nos deixamos quebrar quando nos fazemos vidro.
Agora, cada passo é calculado. É como caminhar às escuras num lugar desconhecido: passo a passo, pisando em cacos, os demais sentidos aguçados. Parece que fiquei mais forte... Estranho: se as aparências me enganaram, nada mais se parece.
Nenhum gesto eu aceno em vão. Não cometo exageros. Tudo medido. Eu sempre tenho os pés no chão, passo a passo, pisando em cacos. Quando se perde a visão, se presta mais atenção aos pensamentos, se diz e se faz melhor dito e melhor feito.
O brilho mentiroso das palavras já não me convence mais: suas roupas são outras; escuto as entrelinhas... Quando se perde a visão, se ouve cada trejeito, cada expressão, cada silêncio, cada respiração.
O cheiro do vento me traz notícias, é o meu jornal. Denuncia, a quilômetros, quem se aproxima e sua intenção. Quando se perde a visão, se percebe o idioma do olfato, se fareja o perigo, a oportunidade, a presa, o predador, a dança das árvores e do riacho.
Decoro cada rosto pelo sabor de suas atitudes. Pessoas doces, educadas, pessoas amargas, amarguradas. Quando se perde a visão, o paladar descobre temperos improváveis.
Tateio lembranças, acaricio amores, abraço ausências, golpeio remorsos. Sinto escorrer por entre os dedos o tempo que perdi e o que ainda me resta. Quando se perde a visão, novas texturas vêm fazer parte do contexto.
Cada perda dá algo. Cada derrota conquista algo. Cada vez que se cai é uma oportunidade para se levantar. Cada vez que nos deixamos quebrar é uma oportunidade para nos refazermos, nos reinventarmos. Quando se quebra o olhar, se amplia a visão de mundo. Se fica mais forte quando nos fazemos vidro.
(Danilo Kuhn)
Obrigado pela publicação! E parabéns pela iniciativa de valorizar e divulgar os autores lourencianos! Grande abraço!!!
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